Dilúvio de Informação: Herança, Realidade Atual e Perspetivas Futuras

A metáfora do 'Dilúvio', 

introduzida por Lévy como uma solução parcial para os desafios da era anterior, foi, é, e continuará a ser uma ideia atual e relevante. A sua pertinência mantém-se viva, acompanhando as transformações e os novos dilemas do mundo contemporâneo.



Definição de Cibercultura

Cibercultura refere-se ao conjunto de práticas, comportamentos, valores e modos de comunicação que surgem e se desenvolvem a partir do uso das tecnologias digitais e do ciberespaço. É uma cultura global e interativa, caracterizada pela interconexão em rede, pela partilha de conhecimento e pela constante transformação impulsionada pelas inovações tecnológicas.


(Lévy, Pierre)

A Revolução Comunicacional do Ciberespaço

Pierre Lévy argumenta que a cibercultura vai muito além de uma simples inovação tecnológica. É uma mudança cultural profunda que transforma as nossas interações sociais, as formas de pensar e o modo como vivemos. Ele define este fenómeno como um conjunto de práticas, valores e formas de pensamento que surgem à medida que o ciberespaço se expande, influenciando diversas áreas da vida humana. 

O ciberespaço, como descrito por Lévy, é mais do que a infraestrutura global de comunicação criada pela ligação de computadores. Ele engloba um vasto mundo de informações e os milhões de utilizadores que o mantêm ativo e em constante evolução. Este novo meio abre portas para um tipo de comunicação descentralizada e interativa, permitindo uma troca de ideias sem precedentes.

O crescimento do ciberespaço “… é o resultado de um movimento internacional de jovens ávidos de experimentarem, em conjunto, outras formas de comunicação…” (Lévy, P., 1997, p. 11), desafiando as formas tradicionais de comunicação. Esta revolução comunicacional tem o poder de reconfigurar as estruturas sociais, económicas e culturais, tornando o ciberespaço um meio de comunicação descentralizado e interativo.


A Necessidade de Adaptação às Mudanças Culturais

Lévy enfatiza que, em vez de resistirmos às inovações tecnológicas, devemos compreendê-las e aceitar as suas implicações culturais e sociais. Fez a analogia com o cinema, referindo que, “Quando nasceu não foi também o cinema vilipendiado por quase todos os intelectuais bem pensantes e os porta-vozes oficiais da cultura como meio de embrutecimento das massas?”, “…hoje o cinema é considerado como uma arte de corpo inteiro e investido de todas as legitimidades culturais imagináveis.”(Lévy, P., 1997, p. 12)

O verdadeiro desafio não é decidir entre ser a favor ou contra a tecnologia, mas sim reconhecer as transformações qualitativas que as redes digitais introduziram na sociedade. A verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na “ecologia dos signos” – isto é, nas maneiras como os símbolos, a comunicação e os significados são transformados pelo ambiente digital e novas tecnologias. Isto sublinha a importância de uma abordagem adaptativa às mudanças culturais trazidas pela cibercultura.


Literacia Digital: Uma Necessidade Vital

O conceito de “dilúvio informacional” descreve o fluxo constante, crescente e avassalador de dados que caracteriza o ciberespaço. Um crescimento global tão acelerado que não tem nenhum precedente histórico. A metáfora da Arca de Noé ilustra a urgência de fazer escolhas cuidadosas, num dilúvio informacional que “…não diminuirá nunca mais…” (Lévy, P., 1997, p. 15). Este cenário destaca o dilema de decidir o que é essencial num mundo inundado de informação, de população (demografia) e comunicação.

Precisamos de preparar as futuras gerações para lidar com este ambiente digital: aceitá-lo como nossa nova condição vital. Os jovens têm de ser ensinados a nadar, a flutuar e a navegar num ciberespaço sempre em expansão. Esta reflexão evidencia a importância de desenvolver competências em literacia digital, essenciais para percorrer e gerir o vasto e complexo mundo da informação contemporânea.




Exemplos significativos de Cibercultura

  Redes Sociais 

As redes sociais, como Facebook, Instagram, TikTok e X (antigo Twitter), são centrais na cibercultura. Permitem que as pessoas partilhem momentos da sua vida, ideias e opiniões instantaneamente, criando um ambiente onde a interação global se tornou norma. Elas moldam comportamentos sociais, influenciam opiniões e até ditam tendências culturais.



Inteligência Artificial (IA) e Chatbots 

A crescente presença da inteligência artificial em aplicações diárias, como chatbots em serviços ao cliente ou sistemas como o ChatGPT, faz parte da cibercultura atual. A IA impacta a forma como interagimos com a tecnologia e abre novas discussões sobre ética, trabalho automatizado e a dependência crescente das máquinas na vida quotidiana.



Realidade Virtual (VR) e Realidade Aumentada (AR) 

A Realidade Virtual (VR) e a Realidade Aumentada (AR) têm redefinido a forma como interagimos com o mundo digital. A VR cria experiências imersivas, transportando utilizadores para ambientes virtuais, seja para jogar, treinar ou explorar novos locais. A AR, por outro lado, sobrepõe elementos digitais no mundo real, como aplicações que projetam informações sobre objetos ou jogos como o Pokémon GO, que integra elementos virtuais na paisagem real.

(Imagens geradas por IA)



Cibercultura: Entre Conexão Global e Desafios de Inclusão

A cibercultura, enquanto expressão de uma nova forma de universalidade sem totalidade, oferece oportunidades inéditas de interação e de partilha de conhecimento em escala global. No entanto, não é isenta de desafios. Por um lado, a desigualdade de acesso às tecnologias digitais, bem como a alfabetização digital desigual, continuam a marginalizar certos grupos, levantando preocupações sobre a persistência de barreiras sociais e culturais.

“A cibercultura será uma forma de exclusão?” (Lévy, P., 1997, p. 258)


Por outro lado, o ciberespaço, com a sua natureza de conectar e difundir conteúdos de forma massiva, suscita o receio de que a diversidade das línguas e das culturas esteja em risco. A predominância de certas línguas globais e a uniformização cultural podem minar a riqueza cultural local, colocando em questão a sobrevivência de formas culturais menos representadas.

“A diversidade das línguas e das culturas está ameaçada no ciberespaço?” (Lévy, P., 1997, p. 261)

 

Estas interrogações são um convite a pensar no futuro da cibercultura, do ciberespaço e a explorar como os desejos e as inovações dos jovens de hoje poderão impactar a sociedade global.

Que dimensão terá o ciberespaço e a cibercultura daqui a 25 anos, considerando a abundância de avidez e sede de conexão dos jovens de 2024, do século XXI?


Biblografia

Lévy, Pierre (1997). Cibercultura. Instituto Piaget: Epistemologia e Sociedade.
Lévy, P. (2017, outubro 17). Pierre Lévy – O que é o virtual? [Vídeo]. YouTube. https://youtu.be/sMyokl6YJ5U

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